9 de agosto, de 1995 – Dia Internacional dos Povos Indígenas.

A data comemorativa foi criada por decreto pela Organização das Nações Unidas (ONU ) para  garantir condições  dignas aos povos indígenas de todo o planeta, nos  os seus direito, sua cultura  principalmente, suas condições de vida e cultura e principalmente a sua  garantia aos direitos humanos.

HISTÓRIA INDÍGENA EM IBIÁ

A história oficial do município de Ibiá está relacionada com o desbravamento do oeste das Minas Gerais, ocorrido entre o final do século XVIII e o início do século XIX. Local de passagem dos tropeiros, a região foi colonizada aos poucos, à medida que a demanda por comida e pouso aumentava. Assim, surgiu entre 1818 e 1822 o povoado de São Pedro de Alcântara, que posteriormente daria origem à cidade de Ibiá. Juridicamente, o povoado tornou-se distrito do município de Araxá por meio da lei provincial nº 2980, de 10/10/1882 e lei estadual nº2, de 14/09/1891. Somente no século XX, através da lei provincial nº 843, de 07/09/1923, o povoado é elevado à condição de município, recebendo o nome de Ibiá. Acredita-se que a nominação deriva, especialmente, do aspecto panorâmico da região do Planalto de Araxás, uma vez que pode significar tanto “serra cortada” quanto “chapadas” ou “cabeceiras altas”.

Contudo, a descoberta de artefatos indígenas na região trouxe à tona uma história muito anterior, remontando à ocupação do território pelos índios da etnia Araxá. Estes viveram na região do Triângulo Mineiro e arredores até meados do século XVIII, mas não é conhecida a data de ocupação do território. De acordo com documentação encontrada pelo pesquisador Tarcísio José Martins, os índios Araxás foram exterminados entre os anos 1750 e 1751 em emboscadas organizadas pelos índios Caiapós, após serem aldeados pelos jesuítas.

No caso específico de Ibiá, as peças foram encontradas ao acaso no município que, seguindo as recomendações do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, notificou o órgão, que realizaram visitas ao município para identificar e codificar o material encontrado. Foram encontrados diversos itens pertencentes à cultura indígena: pontas de lança, materiais de pedra lascada e polida, fragmentos em cerâmica e, também, urnas funerárias. A maior parte do acervo encontrado foi encaminhado para o Museu Histórico Municipal, onde as peças estão atualmente expostas.

De acordo com o IPHAN, o estado de Minas Gerais foi pioneiro no desenvolvimento das atividades de pesquisa arqueológica, remontando ao século XIX com Peter Lund, considerado o “pai da Arqueologia” no Brasil. Desde então, foram cadastrados mais dois mil e quinhentos sítios arqueológicos no estado, o que por si só denota a riqueza e relevância de Minas Gerais no tangente à Arqueologia e História no Brasil. Ao mesmo tempo, as prospecções e escavações realizadas possibilitaram um maior entendimento sobre o modo de vida das populações pré-coloniais, fomentando pesquisas que foram além do período de colonização no Brasil.

ARTEFATOS E OBJETOS INDÍGENAS ENCONTRADOS NO MUNICÍPIO

Pesquisadores destacam a relevância das urnas funerárias, ou em tupi-guarani “igaçabas”, para o desenvolvimento da pesquisa arqueológica no Brasil, uma vez que, feitas para serem enterradas, sobreviveram a ação do tempo e, não raro, eram encontradas em ótimo estado de conservação.

“Diversos grupos indígenas que viveram no atual território brasileiro utilizaram potes cerâmicos para a deposição de restos mortais e objetos relacionados aos mortos (PROUS, 1992). Os rituais eram múltiplos (como enterros primários e secundários) e levavam a uma variação significativa no tamanho desses potes. Quando o indivíduo era enterrado antes do enrijecimento cadavérico os potes deveriam ter tamanho e circunferência suficientes para a acomodação do corpo, podendo ultrapassar um metro de altura e diâmetro. Em caso de enterramentos secundários as dimensões poderiam ser bem menores. Tampas de cerâmica ou outro material poderiam ou não serem utilizadas. São muitas as variações dos rituais funerários envolvendo igaçabas e a muitos deles caracterizavam-se pela escolha de um lugar reservado para o depósito sob o solo desse valioso objeto relacionado ao culto religioso.” (TEIXEIRA, 2012, p.25).

 

Apesar da relevância dos achados arqueológicos no município de Ibiá, não existem muitas informações disponíveis sobre o tema que possibilite um detalhamento do processo de resgate. A imprecisão de datas, responsáveis pelos achados e locais também dificulta a montagem de um histórico acurado, que descreva o processo histórico das peças.

Com a chegada da estrada de ferro na cidade e seu crescimento muitos proprietários de terra passaram então a investir em tecnologias que facilitassem o preparo e manejo do terreno, com o uso de arados e, posteriormente, tratores de portes variados começaram a surgir os utensílios e fragmentos indígenas devido revolver a terra para plantio .

A data exata do achado das primeiras peças é imprecisa, haja visto que, encontradas na zona rural, as peças eram, não raro, consideradas artigos de curiosidade, permanecendo nas propriedades privadas para exibição ou sendo levadas pelos trabalhadores do campo. O Conjunto de Igaçabas, objeto de deste dossiê de tombamento, é composto por seis urnas funerárias, que neste documento foram numeradas para melhor identificação e referência. Dessas, é sabido que a Igaçaba foi resgatada no distrito do Quilombo; a de número I, encontrada na divisa de Ibiá e Pratinha, e algumas  não possuem localização de resgate precisa e registramos também a  do senhor Edmarzinho.

Em pesquisa ao acervo do IPHAN, foram encontradas referências de cinco achados arqueológicos “pré-históricos”, dos quais apenas dois estão disponíveis para consulta online, sendo: um referente à peças resgatadas na Fazenda Samambaia (também chamada de Fazenda São Geraldo no mesmo documento), cuja ficha é datada de 10 de agosto de 1980, tendo sido atualizada em 20 de dezembro de 1997. O outro documento diz respeito ao resgate de peças na Fazenda São José, datando de 01 de maio de 1980, com atualização da ficha em 05 de agosto de 1998.

Funcionário da Fazenda São José por quase dez anos, o senhor Altair Donizete Furtado esteve presente no momento em que a igaçaba foi encontrada:

“preparávamos a terra para plantio de milho. No período da tarde esbarramos com a grade do trator em um objeto e paramos para verificar. Era uma peça de barro que até então não sabíamos o que era e depois vimos que se tratava de tampa de uma urna indígena. Começamos então a retirar a terra do local e o proprietário foi avisado e como era tio do Prefeito da época, isso no ano de 2004, entrou em contato com o Prefeito, que enviou uma equipe para o local e começou o processo de escavação para retirada das urnas. Utilizaram pás, picaretas e o processo demorou alguns dias. Iam escavando e encontravam alguns objetos como pedras, potes de barros, cachimbos, tinha uma ossada dentro da maior urna e dentro alguns objetos como cachimbo, machadinha, que foram trazidos para a Casa da Cultura e entregues para a senhora Wilma Duarte, que era Diretora da Casa da Cultura na época.”

A que se refere o entrevistado foi doada, juntamente com a urna, para o Museu Histórico, e encontra-se exposta na mesma sala que o conjunto de igaçabas. Estudiosos das tradições indígenas afirmam que os mortos eram enterrados com alguns itens necessários para a vida após a morte, ou mesmo que os representassem ao longo de sua vida. Assim, por exemplo, um caçador seria enterrado juntamente com seus pertences.

No arquivo da Secretaria Municipal de Cultura de Ibiá encontram-se duas fichas de inventários encaminhadas ao Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico relacionadas ao resgate das igaçabas no ano de 2001. Uma relata o resgate de uma peça na Fazenda Santa Rosa no dia 30 de junho de 2000 pelo senhor Márcio Teixeira Silva. Consta ainda a informação de que a tampa da igaçaba teria sido destruída pelo trator. A outra ficha relata que a peça em questão foi encontrada na década de 1950 próximo a um mata-burro, tendo servido como vaso de flores durante muitos anos. Após a descoberta de que se tratava de uma urna funerária, a peça foi encaminhada à Casa de Cultura de Ibiá. Contudo, como não há fotografias anexas às fichas de inventário e as descrições são muito sucintas, sem elementos característicos, não foi possível relacionar os relatos dos resgates com as peças do conjunto.

À medida que as igaçabas e outros itens eram encontrados no território do município, as peças eram encaminhadas para a Casa de Cultura, onde foram recebidas e armazenadas. Apesar de não haver documento de doação, relatos dão conta de que trabalhadores e proprietários de terra faziam a entrega dos materiais por livre e espontânea vontade, com a finalidade de proteger os artefatos e a história do município.

MUSEU HISTÓRICO MUNICIPAL DE IBIÁ E SEU ARCEVO INDÍGENA

Criado em 2014, o Museu Histórico Municipal de Ibiá abriga um eclético acervo que conta a história da cidade. Com a estruturação do Museu, foi destinada uma sala para a exposição dos achados arqueológicos, denominada “Sala do Índio”. Neste espaço, localizado no piso térreo, tanto a população quanto visitantes tem a oportunidade de ver o Conjunto de Igaçabas exposto, bem como outras peças.

Consideradas motivo de orgulho tanto para a equipe do Museu Histórico Municipal quanto para a população ibiaense, as igaçabas são sempre alvo de atenção dos estudantes das escolas de Ibiá e cidades vizinhas, que realizam excursões a fim de conhecer um pouco mais sobre a história pré-colonial local, o Museu recebe visitas de estudantes, pesquisadores, visitantes e moradores da cidade, que sempre ficam encantados com o acervo.

O bem cultural exposto no Museu Histórico Municipal é composto por seis peças confeccionadas em cerâmica, denominadas “Igaçabas”. O termo, de origem tupi, designa, literalmente, “pote grande”, usado para guardar água, farinha e outros itens. Em outro sentido, “igaçaba” também quer dizer “urna funerária”, posto que estas possuíam o formato de grandes potes, confeccionados em barro cozido.

De tamanhos variados, as igaçabas possuem, como elementos característicos, um formato “bojudo”, com uma volumetria maior na parte superior, que vai afunilando até a base. É comum possuírem tampas e ornamentos simples em seu exterior, mas também existem aquelas, mais simples, sem elementos decorativos. São confeccionadas em barro cozido/cerâmica e ocas por dentro, com uma abertura na parte superior. Também há instrumentos e utensílios indígenas utilizados no  dia a dia.

 

Fonte: Dossiê de Tombamento do Conjunto de Igaçabas, Ibiá, Novembro de 2017.

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